Ásia-Pacífico<br>Escalada intervencionista dos EUA

Luís Carapinha

Obama ofi­ci­a­lizou a cri­ação de uma base mi­litar per­ma­nente em Darwin

A braços com o quadro de pro­funda es­tag­nação eco­nó­mica e crise sis­té­mica, o im­pe­ri­a­lismo norte-ame­ri­cano in­siste na es­tra­tégia ir­ra­ci­onal de he­ge­monia mun­dial ab­so­luta e cres­cente uti­li­zação do po­derio mi­litar. A casta ex­plo­ra­dora dos EUA, país cuja dí­vida pú­blica ul­tra­passa já os 15 bi­liões de dó­lares e se pre­para para atingir os 100 por cento do PIB res­pec­tivo, não es­conde a sua in­qui­e­tação para com o de­safio re­sul­tante do de­sen­vol­vi­mento da China, se­gunda maior eco­nomia mun­dial desde 2010 e seu maior com­prador de tí­tulos da dí­vida. Sin­to­má­ticas afir­ma­ções das mais si­nis­tras in­ten­ções, como a do can­di­dato à no­me­ação re­pu­bli­cana para as elei­ções pre­si­den­ciais de 2012 e an­tigo em­bai­xador em Pe­quim, Jon Huntsman, que não tem pejo em su­gerir «deitar a China abaixo» (Global Times, 19.11.11), tor­naram-se quase uma ba­na­li­dade na boca de altos re­pre­sen­tantes do poder es­ta­du­ni­dense.

É este o pano de fundo em que se re­a­li­zaram, nos úl­timos dias, as ci­meiras da APEC (Co­o­pe­ração Eco­nó­mica da Ásia e do Pa­cí­fico) e ASEAN (As­so­ci­ação das Na­ções do Su­deste Asiá­tico), mo­mento es­co­lhido pela Casa Branca para uma in­ves­tida di­plo­má­tica-mi­litar na re­gião que tem a China como claro des­ti­na­tário.

 

Des­lo­cando-se à Aus­trália – con­sorte dos EUA e da NATO na guerra do Afe­ga­nistão –, Obama ofi­ci­a­lizou a cri­ação de uma base mi­litar per­ma­nente em Darwin, costa Norte da ilha, anun­ci­ando que os EUA ele­varão à con­dição de pri­o­ri­dade de topo o seu peso mi­litar na Ásia-Pa­cí­fico. A pri­meira-mi­nistra an­fi­triã, Julia Gil­lard, eleita pelo Par­tido Tra­ba­lhista, lem­brou que se tra­tará do maior des­ta­ca­mento mi­litar dos EUA na Aus­trália desde a II Guerra Mun­dial. Ao mesmo tempo, a se­cre­tária de Es­tado, Clinton, as­sinou em Ma­nila, a bordo do des­troyer USS Fitz­ge­rald, uma de­cla­ração com o seu ho­mó­logo fi­li­pino que ca­rimba a po­lí­tica de in­ge­rência dos EUA no in­trin­cado pro­cesso de dis­putas ter­ri­to­riais do Mar Me­ri­di­onal da China que en­volve vá­rios países da zona e pro­meteu re­forçar a ali­ança mi­litar com as Fi­li­pinas. Washington conta com os prés­timos va­li­osos do go­verno de Be­nigno Aquino nos es­forços para exa­cerbar e in­ter­na­ci­o­na­lizar o con­ten­cioso e ins­tru­men­ta­lizar em seu torno uma «frente comum» contra Pe­quim.

 

Na es­ca­lada de con­tenção e cerco es­tra­té­gico da China, os EUA contam com o apoio e a ampla pre­sença mi­litar no Japão e Co­reia do Sul. Si­mul­ta­ne­a­mente, des­ferem um ataque na frente eco­nó­mica, sur­gindo como im­pul­si­o­na­dores de peso do acordo de li­be­ra­li­zação de co­mércio da Par­ceria do Trans-Pa­cí­fico que não é in­te­grado pela China.

Não po­dendo no mo­mento pres­cindir da re­lação de «de­pen­dência eco­nó­mica as­si­mé­trica» com o maior mer­cado emer­gente mun­dial, o au­mento da pressão im­pe­ri­a­lista sobre a China visa obrigá-la a ac­tuar se­gundo «as re­gras do jogo» (Pe­o­ple's Daily on­line, 18.11.11). As mesmas re­gras que ditam que o im­pe­ri­a­lismo não de­sista dos ob­jec­tivos de forçar a total aber­tura do mer­cado in­terno chinês à sua ex­plo­ração ili­mi­tada e anular a emer­gência so­be­rana da China. Tudo e muito mais con­ti­nuará a ser feito pelo poder dos EUA para pau­la­ti­na­mente pro­curar ins­ta­bi­lizar a China e, em úl­tima ins­tância, poder sub­verter a sua ordem in­terna e der­rotar a ori­en­tação as­su­mida do so­ci­a­lismo.

 

É no âm­bito das ta­refas es­tra­té­gicas de monta das forças do im­pe­ri­a­lismo, em que se in­cluem também as me­didas para anular a breve trecho com o es­cudo an­ti­míssil o poder de dis­su­asão nu­clear que a Rússia ba­si­ca­mente herdou da URSS – o que co­loca em risco evi­dente, não só a so­be­rania, como a in­te­gri­dade ter­ri­to­rial da Fe­de­ração Russa –, que no pre­sente mo­mento se as­siste à es­ca­lada de ten­sões e da bar­bárie no Médio Ori­ente e à onda de caos e de­ses­ta­bi­li­zação que alastra do Norte de África à Ásia Cen­tral.

A ac­tual pe­ri­gosa con­jun­tura e as sé­rias ame­aças à paz mun­dial exigem hoje o re­do­brar do pro­ta­go­nismo das massas tra­ba­lha­dores e dos povos, pela de­mo­cracia, contra a ex­plo­ração ca­pi­ta­lista, contra as guerras do im­pe­ri­a­lismo.



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